Su-Jos

Sei que hoje é 1º de abril e o resto todo que vá pra p*** *** ***** mas assim, tinha esquecido de contar uma história que talvez seja uma das "melhores" da minha vida.
Não por ser engraçada, nem por ser um primor de aventura. Mas pra mim, de fato foi muito significativo.

Então...tava rolando um papo de lista pra assistir uma gravação...dos Sujos (vou chamar de Sujos, porque, bem, eu vou chamar assim.).
Aí eu pensei "cara, tô dura que nem um côco, virando a alma ao avesso pra ver se saía uma moeda. Aí nada...os dias chegando, as provas na faculdade acumulando, uma confusão dos infernos e eu pensei logo "tenho que ir pra San Pablo ver os Sujos de qualquer jeito."
Aí tipo de véspera liguei pra uma amiga e disse "vamos?"...ela só mudou o ponto e disse "vamos!".
Aí belezera...fui lá na rodoviária, na véspera da "viagem" e comprei os 3 últimos lugares.
Graças a Deus o namorado da minha amiga foi e alguém menos tapado estava por perto.
Cheguei em casa e fui arrumar minhas coisas. Se não tivesse arrumado teria na mesma dado. Faltou TUDO que eu ia precisar...e sobrou tudo que eu não ia precisar.
Carioca e pobre que sou, conheço só o litoral de San Pablo (onde faz frio), o céu cinza do Estado e as ruas caóticas, por onde passei de taxi tempos atrás, com as janelas fechadas.
Mas tá...liguei e disse "olha só, o ônibus sai amanhã 9 da manhã". A gravação começava às 18hs, lá na rebimboca da parafuzeta, que eu nunca nem tinha ouvido falar que existia.
Aí tá...me saí de casa cedo...pra não acontecer nada no caminho...e fui acompanhada para a rodoviária...acompanhada de Deus e minha mochila que tinha um casaco (quinho), um cachecol, um pacote de passatempo, um trabalho da faculdade que levei pra presentear os Sujos, umas letras de músicas que minha prima pediu pra entregar...e só.
Ah, um copo de achocolatado (pq não faço jabá) no estômago. Cheguei 1:30 antes do horário do ônibus. E fiquei à toa lá na rodoviária. Sozinha...com os mendigos. Não sabia se segurava a mochila, se sentava no mijo. Toda hora olhava o relógio...de meia em meia hora, só tinha passado 5 minutos. Aí nesse sacrifício todo, chegou a hora do ônibus partir. Uma fila mega de pobres e nada da minha amiga e do namorado dela. Eu ligava e ninguém atendia. E eu tava num misto de "vou e largo eles aqui" e "vou esperar e correr o risco de não ir". ´
Quase tendo um filho, eles me ligaram e falaram "segura o motorista"....e fiquei eu lá...tentando fazer o homem demorar. Disse que tinha lugar ainda...blá blá blá.
Eles chegaram, entramos no ônibus.
Como todo castigo pra pobre, corno, desocupado é pouco, minha vizinha de banco era uma mulher, com uma criança de colo golfante...e pior que isso, o banheiro atrás de mim. 6 horas de viagem com o banheiro atrás de mim ia ser complicado.
Mas depois percebi que a criança era bem pior. Eu que nem tinha dormido, toda hora era acordada por um ponta-pé ou uma risada daquelas do bebezinho fofo.
Chegamos na parada...foi só colocar meus cílios pra fora do ônibus que descobri o que faltava na minha mochila. No mínimo um casaco bom, uma touca, uma luva...e um cobertor. Se já tava frio meio-dia, imagina como ficou de noite.
Aí beleza...esqueci de dizer quanto eu tinha pra ir e voltar de São Paulo. R$ 150,00. Só a passagem foi 120,00. Qualquer imprevisto que acontecesse sairia do meu orçamento.
Daí que eu comi um folhado (ou folheado?) no Graal e um refrigerante...lá me foram 10,00. Sobrou-me 20,00...apenas.
Esqueci de contar...um amigo gringo do meu pai que foi me pegar na rodoviária. Naonde que ele sabia onde era o lugar? E eu pensando "meu Deus, vão pegar esse gringo aqui...eu não sei onde tô indo. Eu nem conhecia o cara e agora tô num Estado que não conheço com um cara que conversa só em espanhol e árabe. E eu que só falo inglês e português."
Mas tranqüilo. O trajeto que demoraria uns 20 minutos demorou 2 horas. Levando em consideração o trânsito gigante daquela cidade e a falta de noção do solícito amigo do meu pai, muito querido, que hoje me chama de sobrinha.
Meu pai disse pro cara que eu chegaria 1:30 da tarde...só que eu chegaria 2:30, se não fosse o engarrafamento. Fato é que cheguei mais tarde e que o amigo do meu pai tinha largado um cheque não mão do gerente do banco pra não me deixar esperando. Acreditem, não era pouco dinheiro. EDIT: Aí eu fiz de educada e disse: "Desculpa por te dar trabalho.". E ele: "Ah, que isso. Agora não tem mais problema. Joguei o cheque na mão do gerente do banco e saí correndo pra te pegar.". E ele já tinha ido na rodoviária mais cedo. Eu não o conhecia pessoalmente, e mal lembrava como ele era por foto. Meu pai só disse "É um baixinho, com olhos claros e fundos, com cara de árabe. tem um corolla prata. Ele sempre está de roupa social.". Fiquei 1 hora na rodoviária esperando por ele...e vocês podem imaginar quantos corollas pratas com pessoas de roupa social passaram por ali, né? Pelo menos uns 10. Até que eu encontrei. Ele ligou pro meu pai e disse que tinha me encontrado e tava me levando pra onde eu tinha que ir. Eu meio que me senti numa mega aventura. Porque era um tal de ligar pra saber se eu cheguei e de ligar pra avisar onde eu tava que nem entendia mais nada.

O gringo queria almoçar. Pensei eu "e agora? ". Não tinha dinheiro nem pra fazer uma média de "pode deixar que eu pago." ou "quanto deu a conta?" até ele dizer que não..que ele pagaria. Aí o desespero foi aumentando. O cara é rico, fato que ele ia pra um lugar caro. Aí ele "já almoçou?" e eu disse que não...que ia procurar alguma coisa quando chegasse no lugar. E ele "ah, então vamos almoçar juntos.". Meu caos! Na hora eu inventei que tava com pressa. Mas pressa pra quê? Só se for pra ficar em pé na fila.rs

Fiquei me imaginando, no estado que eu me encontrava, entrando de tênis, jeans e uma mochila nas costas (lembrando o conteúdo...e um pacote de passatempo.) num restaurante caro com um cara de roupa social. Fui ficando mais e mais desesperada.

Aí ele me deixou no lugar...assim que cheguei eu praticamente dei um jeito de fugir do carro. Minha amiga ria que não parava dele conversando no cel em árabe. Ele ligou pro meu pai e falou que tava preocupado porque eu não tinha comido. Meu pai ligou pra mim e me comeu no esporro...e eu "ah pai, mas eu tava sem dinheiro."...e ele "você é burra? ele ia pagar pra você. agora vai ficar com fome o dia todo? ele deve estar achando que você fez desfeita, filha.". E ficou por isso mesmo. Fiquei sem graça de conhecer o cara no dia e comer às custa dele e levar uma amiga ainda.
Mas belezinha...
Chegando no local...todo mundo bonitinho, arrumadinho...e eu, mó cara de doméstica. Aquela maquiagem de 6hs da manhã que já tava fazendo meia diária, toda derretida. Eu com aquelas olheiras enormes, uma fome mega. Saí pra caçar algo pra comer, já que dispensei o rango do gringo.
Só tinha um cachorro quente com cara de passado e com purê de batata. Melhor nem arriscar.
Passei a fome mais feliz da minha vida. Conheci gente que eu só conhecia pela internet...e foi muito bom.
Mas aí...vamos lá. Chegou a hora da gravação. Cheguei cedo e tive que sentar lá atrás. Só lá que quem chega primeiro fica por último. Mas não criei crise, já tava com o meu estômago no avesso.
Aí, aquela filinha indiana...e deram comida pra galera. Um guaraná quente, uma barrinha de maça da bauducco, uma maçã, um pão francês duro com uma fatia de presunto, uma de queijo, uma penca de alfaces e tomates. Sem manteiga.
Mas a fome é negra...e lá fui eu comer. Nunca imaginei que ia ser tão saboroso.
Lá pelas tantas...quase meia-noite, acabou a gravação. Minhas costas um lixo...
E eu nem sabia como ia voltar pra rodoviária. Fato era que eu não ia acordar o amigo do meu pai.
O namorado da minha amiga tinha sumido. E ela já falando "é hoje que o namoro acaba". E eu acalmando a situação.
Eu só esqueci de dizer que o namorado dela é gaúcho...e o irmão dele é motorista de caminhão. E nesse dia, encontramos o irmão dele no meio da Dutra. E ele veio de caminhão atrás do ônibus...irritando o motorista.
Demorou ainda uns 20 minutos e o namorado dela apareceu com o irmão. Resolvidos os nossos problemas. Na boléia com Pedro e Bino. E lá fomos nós pegar o caminhão lá no CEAGESP, que era do ladinho do estúdio que a gente tava.
Um frio que não tinha nem tamanho mais, as ruas desertas, um lugar bizarro cheio de caixotes de fruta pegando fogo. Mendigos comendo os restos...e a gente lá, andando como se nada tivesse nos acontecido.
Não tinha jeito, e fomos nós. Um caminhão com 4 pessoas. Bem, cabem 3. Eu fiquei na porta. Com um medo de altura enorme...e já pensando em como seria pra descer se eu seria a primeira. No caminho ouvi vários motoristas cantando música sertaneja no rádio. E conheci como é andar de caminhão, na noite de São Paulo. Tá que era um bixo enorme que tinha saído do lugar só pra levar a gente na rodoviária, como se fosse uma simples moto.rs
Chegando na rodoviária, abri a porta do caminhão e perguntei "como faço pra sair daqui?". Não tinha jeito, tive que pular. Sorte que não me espatifei no chão. Nem lembro como foi o trajeto do banco até a rua. Sei que consegui com sucesso.
Cheguei azul de fome na rodoviária e fui fazer meu 2º xixi do dia...pra depois comer um sanduíche muito fajuto de 9,00 com um suco superfaturado de 4,00. E lá se foi todo o meu dinheiro. O sanduíche tava com o meio gelado...e foi mais caro do que merecia. Fiquei lá 1 hora ainda assistindo tv até a hora do ônibus sair.
Voltei naquele double class...que é alto pakas também. E dormi a viagem inteira. Dessa vez com cobertor e travesseiro, que eu quis malocar mas tive medo de me pedirem na saída. Só que ninguém pediu.
De fato eu tava torcendo pra demorar pra chegar porque queria dormir...mas até que foi rápido demais. E eu logo tive que pegar outro ônibus pra voltar pra casa...e dormir o dia inteiro. Dessa vez, com calor e muita satisfação. Nunca mais vi o gringo, mas ele de fato é uma pessoa muito especial.